Ceüse 2010

Ceüse 2010
Ceüse 2010

4.9.12

Fanáticos pela escalada

Esta publicação é uma homenagem a todos aqueles que, como eu, são fanáticos pela escalada. Eu gostaria de agradecer, em especial, a todos os fanáticos residentes na Serra do Cipó que me proporcionaram uma excelente temporada de escalada neste inverno. Aproveito para parabenizar a galera que tem se esforçado tremendamente para abrir as vias e manter a Lapa do Seu Antão aberta aos escaladores. O lugar é muito legal e agradável, ambiente bem família e com vias cheias de buracos, no melhor estilo Frankenjura – aliás, a via homônima é alucinante. Com certeza vale a visita de tempos em tempos.

Porque fanático que é fanático:

i) escala de três a seis vezes por semana (às vezes sete!);
ii) passa o resto dos dias pensando no próximo dia de escalada;
iii) medita frequentemente sobre o próximo projeto, a próxima cadena, a próxima conquista;
iv) sabe e pratica o kata* de seus principais projetos, incluindo-se toda a movimentação de pés;
v) pratica uma alimentação saudável e regrada, no intuito de se manter magro, porém forte e resistente;
vi) evita excessos na vida noturna, afinal, sempre rola aquela escaladinha na manhã seguinte.
vii) vai à falésia mesmo em dia de descanso, seja para dar segurança, para socializar ou para equipar e limpar uma via nova.

Tem ainda o fanático por treinar para a escalada que:

i) possui e segue uma planilha de treinos;
ii) treina fingerboard e /ou campusboard uma a três vezes por semana, duas a três semanas por mês;
iii) faz barra com certa frequência, inclusive com um braço só;
iv) faz elástico, exercícios aeróbicos e exercícios para abdome e para lombar, entre outros, visando aprimorar o condicionamento físico e evitar lesões (por mais paradoxo que pareça);
v) treina mesmo em véspera e até em dia de escalada em rocha, sendo que neste último caso, treina preferencialmente de manhã, antes de ir à falésia, para que o treino tenha maior rendimento.

É claro que todos os itens acima, até o mais fanático de todos tem dificuldade em cumprir, mas fornece uma excelente idéia de como se tornar um fanático pela escalada. De qualquer forma, é muito bom ver que há, no Brasil, cada vez mais fanáticos. Entretanto, a imensidão deste Brasil generoso em rocha merece muito mais fanáticos. Portanto, escaladores de plantão, atenção!

É preciso fanatizar!

*kata, do caratê: i) uma sequência de movimentos, ataque e defesa numa luta imaginária. ii) um combate com um adversário imaginário; iii) a alma de um treino de caratê.

Fabio Gollum - Adilson Maguila 7c

Fabio Gollum - Adilson Maguila 7c

Fabio Gollum - Frankenjura 8b

Fabio Gollum - Frankenjura 8b

Galera na base das vias na Lapa do Seu Antão

Fabio Gollum - Bomba Neném 9a

Fabio Gollum - Bomba Neném 9a

Fabio Gollum - Bomba Neném 9a

Fabio Gollum - Bomba Neném 9a

Fabio Gollum - Bomba Neném 9a

Fabio Gollum - Bomba Neném 9a

Fabio Gollum - Ética Decomposta 9b / 9c

Fabio Gollum - Ética Decomposta 9b / 9c

Fabio Gollum - Ética Decomposta 9b / 9c

Fabio Gollum - Ética Decomposta 9b / 9c

Fabio Gollum - Ética Decomposta 9b / 9c

Fabio Gollum - Ética Decomposta 9b / 9c

Fabio Gollum - Ética Decomposta 9b / 9c

Fabio Gollum - Ética Decomposta 9b / 9c

Fabio Gollum - Ética Decomposta 9b / 9c

Família Gollum na Sala da Justiça, Serra do Cipó

24.3.12

Temporada de treinos e muita escalada na Cidade Maravilhosa

Por pouco mais de seis meses minha rotina consistia em treinar de segunda a quinta-feira e escalar na rocha aos sábados e domingos. Minha sequência semanal incluía cerca de 30 minutos de treino funcional antes do almoço, abusando dos elásticos. À noite, após um longo dia de trabalho e locomoção, treinava cerca de 2 horas no muro de escalada. Nas semanas em que me sentia demasiadamente cansado, ou quando eu projetava um repouso maior, descansava também ou na segunda ou na quinta-feira, além do habitual descanso às sextas. Uma observação: a maioria dos meus dias de descanço foram ativos, pois eu seguia minha rotina de treino funcional.

Durante a semana, uma vez que meu tempo disponível era escasso, meus treinos no muro eram muito metódicos, com boulders e vias pré-determinadas (na maioria das vezes) e, principalmente, cronômetro guiando a progressão dos exercícios (sempre). Quando chovia muito a ponto de babar as agarras do muro – em alguns dias chegava a formar poças dentro das agarras a despeito do telhado, tamanho era a força da chuva de vento – me empenhava no finger board.

Meu corpo se adaptou à intensa carga de exercícios, mas ainda assim eu sentia – e ainda sinto – a falta de um bom campus board. Em contra partida, meu finger board cumpria bem o seu papel. Utilizei meu colete com afinco, colocando sobrecarga de 5 ou 10 kilos, sobretudo nos treinos de resistência e nos com finger.

Nos finais de semana era a hora da diversão, o momento mais esperado. No início frequentei bastante a Pedra da Ostra, até conseguir realizar o FA (primeira ascensão) do meu projeto pessoal, a via Enigma do Diedro, cujo grau reside entre 9c (8a fr) e 10a (8a+ fr). Esta via de aproximadamente 35 m de extensão é absolutamente incrível! Após um longo 7c com vários descansos, a via percorre um teto / negativo alucinante com direito a passada a montê.

Logo após, por questões pessoais (positivas – tem um novo monstrinho chegando), me vi obrigado a estar todos os finais de semana em Niterói, meu QG oficial. Neste ínterim, voltei a frequentar o Campo Escola 2000 assiduamente, entre uma visita ou outra à Barrinha. No final do ano de 2011 e início de 2012, virei local da Falésia dos Primatas, em grande parte por ter sido expulso pelas famigeradas mutucas do Campo Escola 2000 e em pequena parte devido às chuvas intermináveis e ao calor intenso.

A Falésia dos Primatas fica no Horto, ao final da trilha que vai para a Cachoeira dos Primatas. Apesar de ser uma falésia relativamente pequena (são 4 vias com 5 a 6 proteções), é uma falésia extremamente agradável, quase sem mutucas, na sombra e de clima ameno. As suas vias, embora curtas, são muito negativas, com angulação variando entre 45 e 55 graus. São vias explosivas e bem atléticas, mas que não afetam tanto a pele, se comparadas às outras falésias do Rio de Janeiro, sendo que as vias Orangorock e Lula Lelé são muito clássicas e belíssimas.

A trilha para a Falésia dos Primatas é bastante frequentada em função da Cachoeira dos Primatas. O traje de banho é item obrigatório em uma visita a esta falésia. Partindo da base das vias, em dois minutos, ou menos, chega-se à cachoeira, cujas águas refrescam não só o corpo, mas lavam a alma profundamente.


Muro de escalada

Muro de escalada

Muro de escalada

 
Muro de escalada

Muro de escalada

Muro de escalada

 
Fabio Gollum - Enigma do Diedro 9c / 10a

 
Fabio Gollum - Enigma do Diedro 9c / 10a

Antônio Sérgio Monteiro - Roleta Russa 9c

Fabio Gollum - Lula Lelé 9c

Fabio Gollum - Lula Lelé 9c

 
Fabio Gollum - Lula Lelé 9c

Fabio Gollum - Lula Lelé 9c

Fabio Gollum - Lula Lelé 9c

Fabio Gollum - Lula Lelé 9c

Fabio Gollum - Lula Lelé 9c

Fabio Gollum - Lula Lelé 9c

14.9.11

Rodellar

Como não poderia deixar de ser, programamos 10 dias de escalada em Rodellar. Não consigo imaginar uma viagem de escalada pela Europa sem uma visita a Rodellar. Localizada dentro do Parque Natural de La Sierra de Guara, na parte espanhola dos Pirenéus, esta pequena e antiga cidade é a porta de entrada para os mais famosos barrancos do parque, como os barrancos de Mascún e Otín. E que barrancos... a visão destes barrancos é um espetáculo à parte. São centenas de falésias à beira-rio formando um labirinto de cânions de calcário permeados por águas cristalinas e gélidas que brotam literalmente da rocha. Aliás, a Surgencia de Mascún, a 15 minutos de caminhada do centro da cidade, é a melhor e mais confiável fonte de água da região, além de dar nome a um setor alucinante com vias de 50 metros de altura (mas qual setor de Rodellar que não é alucinante!?).

Esta combinação barrancos + água virou “esporte”: o barranquismo, que no Brasil é conhecido como “rapel em cachoeira” ou simplesmente “canoying”. Os praticantes de barranquismo na Europa levam este esporte muito a sério, a ponto de haver croquis bem completos das rotas de barranco que contemplam, inclusive, sua graduação de dificuldade. Um dos muitos guias de barranquismo da região chega a ter 104 barrancos (rotas) catalogados. Mas como todo esporte radical, deve ser praticado com instrutores ou guias com experiência e utilizando-se os equipamentos de segurança apropriados. Não é incomum ocorrer a morte de um barranquista no Parque de Guara. Além do mais, as águas de Rodellar são tão geladas que o uso de roupa de neoprene (ou Long John para os surfistas) durante o barranquismo é essencial.

Mas como o que me motiva é a escalada, ainda não consegui praticar o barranquismo, nem nos dias de descanço. Pensando bem, acho que nunca conseguirei, tamanho o meu foco na escalada. E por falar em escalada, o que é Rodellar? É simplesmente, no meu ponto de vista, o melhor lugar de escalada esportiva do planeta, disparado! Tá certo que ainda preciso viajar muito só para conhecer os picos mais badalados e famosos do mundo, como as ilhas paradisíacas da Tailândia. Mesmo assim eu posso afirmar categoricamente que Rodellar é mágico, possui uma áurea alienígena, sobrenatural. É como se não ficasse na Espanha, mas em um lugar melhor, mais nobre, mais alto astral, um lugar que não pertence a este mundo. A comunidade vibra com a escalada, te coloca para cima, induz a sua cadena.

Como já conhecíamos o lugar, fizemos questão absoluta de retornar. Ainda bem, pois o tempo estava muito bom, quente e seco. A partir da cidade, chega-se à base de umas 20 falésias diferentes com menos de 15 minutos de caminhada, com predominância de vias muito negativas e longas, cheias de agarrões e pinças. É incrível como uma via só de agarras boas tem a capacidade de tijolar os braços tão intensamente. Mesmo com a temperatura passando dos 35 graus, a escalada na sombra, no final de tarde (ou noite segundo o relógio), era excelente. O mesmo calor que castiga alguns também faz a alegria de outros: as magníficas chorreras que caracterizam as vias mais clássicas de Rodellar estavam todas secas, sem exceção. Ao meu ver, Rodellar só tem um ponto fraco: o excesso de chuva em determinadas ocasiões. Quando a água permeia a rocha a ponto de molhar as chorreras, estas demoram mais de semana para secar, mesmo que não chova mais e faça calor.

A escalada em chorreras – ou tufas – é o principal atrativo das vias em Rodellar, o que exige uma movimentação especial por parte do escalador. É preciso ter muita técnica em oposição devido à grande quantidade de pinças, além de ser fundamental o entalamento de joelho – el potre. Entalar o joelho corretamente é tão importante quanto manter a respiração. Eu arrisco a dizer que existem 3 estágios de aprendizado acerca do entalamento:
1°) aprender a entalar o(s) joelho(s) em locais óbvios, de fácil entalamento / descanço;
2°) aprender a descansar com o(s) joelho(s) entalado(s) em locais medianos / desconfortáveis;
3°) aprender a movimentar-se com o(s) joelho(s) entalado(s) em locais medianos / desconfortáveis.
A movimentação das mãos com o(s) joelho(s) entalado(s) gera, inicialmente, um enorme desconforto devido à forte tensão corporal exigida. Mas quando se pega o jeito, a economia de forças na movimentação é capaz de elevar o grau da cadena em cerca de duas letras.

Além da chuva que molha, o outro “problema” de Rodellar é o seu tamanho. São tantas falésias, tantas opções de escalada, que se torna difícil definir o local exato para a escalada do próximo dia. No início do texto eu mencionei o setor Surgencia, com suas vias 3 estrelas de 50 metros de altura. Pode parecer estranho, controverso até, mas este setor não tem o mesmo glamour que os setores TOP 4 de Rodellar: Gran Bóveda, Pince Sans Rire, Las Ventanas e La Piscineta. Estes quatro setores são surreais e merecem destaque em função da quantidade de vias ultra-mega-super-clássicas. Destas, só a La Piscineta que destoa, pois fica a cerca de uma hora de caminhada e possui poucas vias (em comparação com os demais setores). Mas vale a pena, e muito. Não só pela escalada, magnífica, mas também pelo passeio e diversão: já se perguntou por que o nome La Piscineta? Em um belo dia, com Sol a pino e previsão de 37 °C, fomos escalar na La Piscineta. Resultado: o dia foi perfeito, escalamos a muerte e ainda passamos frio na sombra tamanha a ventania que soprava na base da falésia. Destes setores, o único que não escalei nesta viagem foi Las Ventanas. Bem que eu queria, mas como podem perceber, eu estava diante de um sério problema: o tamanho de Rodellar. Mas como eu queria ter um problema destes por aqui, bem pertinho de casa...


Rodellar

Uma falésia virgem a caminho de Rodellar

Fabio Gollum - L'any que ve també 9a

Fabio Gollum - L'any que ve també 9a

Fabio Gollum - L'any que ve també 9a

Fabio Gollum - L'any que ve també 9a

Fabio Gollum - L'any que ve també 9a

Fabio Gollum - L'any que ve també 9a

Comunidade Brasileira na base da Gran Bóveda

Fabio Gollum - Nanuk 9a

Fabio Gollum - Nanuk 9a

Fabio Gollum - Nanuk 9a

Fabio Gollum - Nanuk 9a

Fabio Gollum - Nanuk 9a

Fabio Gollum - Nanuk 9a

Fabio Gollum - Nanuk 9a

Fabio Gollum - Nanuk 9a

Fabio Gollum - Nanuk 9a

Fabio Gollum - Nanuk 9a

Fabio Gollum - Nanuk 9a

Fabio Gollum - Nanuk 9a

Base da La Piscineta

Vista da base da La Piscineta

Comunidade Brasileira após um dia de bate e volta a La Piscineta