Ceüse 2010

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29.12.10

Pedra da Ostra – Relato das conquistas


Após mais de um ano entre conquistas e cadenas, a Pedra da Ostra vem se popularizando bastante entre os escaladores de todas as partes. A falésia caracteriza-se por vias esportivas de excelente qualidade aliadas a um clima bem agradável, com sombra à tarde e, geralmente, um ventinho salvador. Sem contar que as vias secam muito rapidamente. Como diria um grande amigo, puro luxo.

O escalador local de Rio das Ostras e amigo de longa data, Fabricio Lofrano, sempre me falava desta falésia e do seu potencial, mas eu, por residir em Niterói, não me animava em ir ao local conferir. Por conta do meu trabalho, passei a frequentar Macaé e arredores. Fabricio me levou à Falésia do Raio, conquistada principalmente por Fred – Frederico Almeida, experiente escalador local de Rio das Ostras. Pude conferir as principais vias da Falésia do Raio – vias técnicas e bem hard (pode subir pelo menos um grau). Quando o Fabricio me levou à Pedra da Ostra foi como um sonho se realizando. Eu sempre me perguntava como seria chegar na Barrinha ou no Campo Escola 2000 e encontrar aquela formação rochosa, extraordinária e virgem. Foi o que senti naquele dia ao chegar na Pedra da Ostra. Uma euforia tomou conta de mim diante daquela magnífica falésia.

Fabricio me levou à base da falésia, que conta com três setores distintos: o Principal, que fica no meio e tem as vias maiores e mais imponentes; o Tira Gosto, setor à esquerda que conta com as menores vias, porém todas atléticas; e o Tradicional, setor à direita com vias técnicas e longas, que requerem algum material móvel.

Chegando no setor Tira Gosto, Fabricio me mostrou a linha que ele namorava a tempos. Alguns dias depois voltamos equipados com todo material de conquista e abrimos em um dia, de baixo para cima, a primeira via da falésia*, a via Tira Gosto, 7b, com 6 proteções.

*Na verdade, a primeira via da falésia foi um artificial conquistado pelo "bombeiro" Júnior em A0 a mais de 10 anos, com grampos grandes e artesanais, no setor Tradicional, onde hoje é a via do Bombeiro, 5°sup, após manutenção realizada por Fred e Serginho (Sérgio Santos).

            No dia seguinte, começamos a conquista da primeira linha no setor Principal, de baixo para cima. Esta conquista até hoje não foi finalizada devido à dificuldade em visualizar a continuidade da linha. Aparentemente a via pode continuar reto para cima e em diagonal para a direita. Inclusive, a última proteção colocada parece ter ficado fora da rota e, provavelmente, deverá ser remanejada. Por esta razão (evitar proteções mal posicionadas) decidimos, sempre que possível, montar primeiro um rapel / top rope nas vias a serem conquistadas no futuro. Certamente esta linha é uma grande pendência a ser resolvida neste ano de 2011.

            Nos dias seguintes, conquistamos vindo de cima, eu e Fabricio, a via Presente Zen, 7c, com 7 proteções e a via O Berro, 8b (primeira parte com 6 proteções) / 8c (inteira, total de 11 proteções). Durante esta última conquista, os escaladores locais Fred e Serginho conquistaram, também de cima, a via Tá Rindo do Que?, 7b, com 5 proteções. Logo depois eu e minha esposa, Juliana Stutz, conquistamos a via O Esporro, 9c(?), com 8 proteções e ainda sem cadena.

Cerca de um mês depois, eu, Fabricio e Juliana conquistamos a primeira via inteira do setor Principal, a via Cavaleiro das Trevas, provável 9b, ainda sem repetição. Esta conquista foi muito trabalhosa e demorou uma semana devido às diversas entradas que realizamos em top rope para uma melhor visualização da linha, além da chuva que caiu. Com a conquista desta via percebemos que as vias do setor Principal devem ser escaladas em duas enfiadas. A primeira, uma rampa técnica – neste caso graduada em 2° grau com uma saidinha de 3°sup e somente uma proteção nos primeiros 25 metros até a parada, e a segunda, que é a via atlética propriamente dita, com mais 11 chapeletas (total de 13 proteções). Devido a um pequeno trecho aparentemente podre no meio da via, a proteção logo abaixo do crux ficou um pouco afastada, dificultando em muito a costurada e praticamente inviabilizando a sacada. Por esta razão, decidimos que três proteções ficarão sempre com costuras, para facilitar a sua escalada e também incentivar outros escaladores a provar esta linda via.

Quando ainda tentava a cadena da Cavaleiro das Trevas, trouxe meu camarada e parceiro de conquistas em Niterói, Daniel Olho, para conferir a falésia. Nesta ocasião, conquistamos de baixo para cima, eu e Daniel, a via Lista Negra, 9c(?), também ainda sem cadena. Esta linha localiza-se bem à direita no setor Principal, com cinco proteções. Lembro que ao chegar à falésia, o Daniel avistou a via Presente Zen, irado!

Verão chegou e me afastei da região. Fui viajar pelo país, conheci a Gruta da 3ª Légua em Caxias do Sul, Salto Ventoso em Bento Gonçalves, Gruta de Passa Vinte próximo a Resende, Corupá no Braço Esquerdo em Santa Catarina e Vale das Cruzes em Visconde de Mauá. Nesta “folga”, tive a oportunidade de conhecer também Las Chilcas e Las Palestras no Chile, além de algumas das incontáveis e mais impressionantes falésias em Ceüse, Orpierre, Rodellar, Siurana e Margalef. Quando voltei a frequentar a Pedra da Ostra, os escaladores locais já haviam conquistado as vias do setor Tradicional, além de iniciar algumas outras conquistas na falésia. As vias deste setor são, da direita para a esquerda:

1) Balacobaco, 6° (9 proteções), precisa de peças móveis (Frederico Almeida / Fabricio Lofrano)

2) Via do Bombeiro, 5°sup (6 proteções), precisa de peça para 1ª proteção (Frederico Almeida / Sérgio Santos)

3) Ziriguidum, 7a (6 proteções), precisa de peça para 1ª proteção (Frederico Almeida / Fabricio Lofrano / Sérgio Santos)

4) Trem das Quatro, 7a (5 proteções), precisa de peça para 1ª proteção (Frederico Almeida / Fabricio Lofrano / Sérgio Santos)

Continua...

Juliana Stutz - Tira Gosto 7b

Fabio Gollum - Cavaleiro das Trevas 9b

Fabio Gollum - Cavaleiro das Trevas 9b

22.12.10

Como graduar vias esportivas e boulders


Após alguma discussão na lista da FEMERJ e no site 8a.nu, percebi que o conceito adotado no Brasil, pelo menos na teoria, é diferente do mundial. Quando digo mundial, me refiro às graduações francesa e americana (a inglesa é bem diferente).

No Brasil, teoricamente a graduação de uma via, seja ela esportiva ou tradicional, é obtida através da cadena a vista. Pode até ser que na escalada tradicional seja assim, principalmente nas vias técnicas. Mas com certeza não é assim que se gradua vias esportivas e boulders, assim como penso que vias tradicionais atléticas (i.e. negativas e fisicamente exigentes) também não tenham sido, nem sejam, graduadas desta maneira. E vou além, ao meu ver, nenhuma via deveria ter seu grau dado a vista, mas aí já é pedir demais, né...

;)

Portanto, creio que se faz necessário explicar detalhadamente como chegar corretamente à graduação de uma via esportiva ou um boulder, para que tenhamos uma graduação compatível e linear com a francesa e a americana, onde:

Francês = Brasileiro = Americano (V é para boulder):

9b+ = 12c
9b   = 12b
9a+ = 12a
9a   = 11c
8c+ = 11b   = V16
8c   = 11a   = V15
8b+ = 10c   = V14
8b   = 10b   = V13
8a+ = 10a   = V12
8a   = 9c     = V11
7c+ = 9b     = V10
7c   = 9a     = V9
7b+ = 8c     = V8
7b   = 8b     = V7
7a+ = 8a     = V6
7a   = 7c     = V5
6c+ = 7b     = V4
6c   = 7a     = V3
6b+ = 6°sup = V2
6b   = 6°      = V1
6a+ = 5°sup = V0
6a   = 5°

Para que a tabela acima, utilizada para graduar no site 8a.nu por exemplo, seja válida, a forma correta de se graduar é:

1) A pessoa que faz o FA (first ascent), i.e., faz a 1ª cadena - normalmente trabalhado (em red point) - propõe um grau para a via / boulder através de sua graduação pessoal - personal grade.
2) Os repetidores da via / boulder propõem a sua graduação pessoal para esta via / boulder.
3) O grau final é obtido pela moda dos graus pessoais totais após um número razoável de repetições.

Obs.: Moda é o valor com maior frequência. Diferente de média ou mediana.

Isto significa que, à medida que a via / boulder vai sendo repetida, i.e., recebe outras cadenas, seja em red point, a vista ou em flash, o grau se confirma ou não pelo consenso da comunidade.

Vou além, as graduações pessoais com maior importância neste processo vêm daqueles que encadenam a via / boulder no seu limite, em red point, pois a diferença de um grau é mais bem percebida por eles. De maneira oposta, um cara muito forte normalmente não tem como diferenciar o grau de uma via / boulder "fácil", pois ele perde a sensibilidade.

Acontece que o grau da via / boulder não é imutável. Às vezes quebra-se uma agarra ou alguém acha um beta novo e melhor. A partir de então o processo acima se repete, mudando ou não o grau da via / boulder.

Claro que grau é subjetivo e varia de pessoa para pessoa, em função do tamanho da pessoa, do tipo de rocha que a pessoa está acostumada a escalar, do tipo de escalada, se técnica, explosiva ou de resistência. Isto é, grau é pessoal. Por isso que o consenso / grau final é obtido pela moda, pois significa que para a maioria das pessoas que encadenaram a via o grau é aquele.

Isto é importante para dar idéia aos escaladores que tentarão a cadena no futuro, principalmente quando se tenta a cadena a vista, feito este que pode ser considerado o mais nobre na escalada esportiva - a cadena a vista, sacando ou não.

Mas lembrem-se da máxima que:

"Grau não se discute, se comemora!"

18.12.10

Apresentação


Olá comunidade blogueira!!!

É com muito prazer que inicio o meu blogspot. O objetivo deste blog é trocar experiências com a comunidade escaladora, do Brasil e do Mundo. Estarei postando aqui novidades e curiosidades acerca da escalada, assim como divulgar um pouco das minhas escaladas por aí, sempre junto com minha fiel companheira, amiga, esposa e amada, Juliana Stutz.

Espero que todos aproveitem e qualquer comentário é sempre bem-vindo.

Até mais breve!